As Árvores
O Sobreiro (Quercus suber) e a Azinheira (Quercus rotundifolia) são as espécies de árvores que mais vulgarmente sustentam o sistema montado. Ambas pertencem à família dos carvalhos (Família Fagaceae). No entanto, outras espécies como o Carvalho-negral (Quercus pyrenaica) podem ocorrer em formações semelhantes, com árvores esparsas e uso-múltiplo do sistema, às quais também se pode genericamente designar montados.
Sobreiro
O sobreiro é um carvalho típico da região Mediterrânica que tem uma grande longevidade (mais de 200 anos) e uma característica rara no Reino das Plantas: tem uma casca de tecido suberoso, a cortiça, com cerca de 15 a 20 cm de espessura. A cortiça constitui uma importante barreira natural de proteção contra o fogo, elemento comum na região onde esta árvore ocorre. Além disso tem características notáveis como ser extremamente leve, elástica e compressível, e um excelente isolante térmico e acústico, também totalmente impermeável a líquidos e praticamente impermeável a gases. Estas características da cortiça levam a que seja um produto desde há muitos séculos explorado pelo Homem podendo ser extraída periodicamente das árvores, de forma sustentável e sem prejuízo para a mesma desde que com práticas de extracção correctas.
Os sobreiros são árvores de folha persistente, que mantém folhagem verde ao longo de todo o ano, ao contrário de outras espécies de carvalhos portugueses de folha caduca (e.g. carvalho-português Quercus faginea ou o carvalho-negral Quercus pyrenaica). As folhas são verdes na página superior e esbranquiçadas por baixo, graças a uma pequena penugem. As folhas novas nascem no início da primavera, crescendo até ao final de Junho. Os sobreiros florescem de Abril a Junho, sendo as flores masculinas diferentes das femininas. A época de frutificação mais abundante dá-se entre Novembro e Janeiro e o fruto, mais conhecido por bolota ou glande, tem formas e dimensões diferentes de árvore para árvore.
Em Portugal o sobreiro é considerado património Nacional sendo uma árvore protegida por legislação nacional e regional. Na verdade, já no século XIII o Rei D. Dinis declarou a proteção desta espécie contra usos inapropriados. Desde então as leis de proteção desta árvore têm sido aperfeiçoadas focando atualmente não só a sua proteção, mas a correta gestão dos montados. Várias práticas estão legalmente regulamentadas, como é o caso da extração da cortiça, podas, cortes e uso do solo (Decreto de Lei nº 169/2001 de 25 de Maio). Por exemplo, o abate de sobreiros é expressamente proibido; é obrigatório um intervalo mínimo de 9 anos entre extrações de cortiça numa mesma zona da árvore; e a poda não é autorizada nos 2 anos anteriores ou seguintes à extração da cortiça. Em 2011 a Assembleia da Republica declarou o sobreiro Árvore Nacional de Portugal.
Azinheira
A Azinheira é um carvalho que em Portugal ocorre sobretudo no Sul, mas cuja distribuição geográfica é mais alargada. É uma árvore de folha semi-persistente que pode atingir cerca de 15 m de altura. A casca das azinheiras tem cor acinzentada, sendo lisa em árvores mais jovens e rugosa e com pequenas placas em árvores adultas. As folhas são de cor verde-acinzentada na página superior, apresentando uma densa cobertura de pelos claros na página inferior; permanecem na árvore durante cerca de 3 anos após o que caem e são substituídas por folhas novas. As azinheiras florescem entre Março e Junho, período durante o qual a copa fica coberta por inflorescências masculinas (amentilhos) de pequenas flores amarelas. A principal época de frutificação ocorre entre Outubro e Dezembro, sendo o fruto uma bolota larga e ovoide. As bolotas de azinheira são as mais adocicadas de todos os carvalhos sendo utilizadas na alimentação humana e do gado. Atualmente a bolota da azinheira é muito importante na alimentação dos porcos de “montanheira”, constituindo por isso uma mais-valia a nível económico.
A azinheira ocorre sobretudo sob a forma de montados de azinho, sendo pouco frequentes os bosques densos. À semelhança dos montados de sobro, os montados de azinho são sistemas agro-silvo-pastoris de uso pouco intensivo, geralmente abertos e com baixa densidade de árvores. Nos montados de azinho é dada maior importância ao pastoreio extensivo, sendo também explorados para produção de cereais, carvão, madeira e produtos cinegéticos, entre outros. São também reconhecidos pelos elevados níveis de biodiversidade que suportam, sendo habitat de várias espécies de mamíferos e aves com estatuto de conservação (tais como o Lince-ibérico Lynx pardinus e a Águia-imperial-ibérica Aquila adalberti). Os montados de azinho enfrentam, no entanto, diversos problemas incluindo baixa regeneração natural, pragas e doenças, erosão do solo, abandono rural e a perda de valor económico.