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Gestão e Produtos

Os montados podem ser considerados sistemas semi-naturais, uma vez que as suas características são consequência da intervenção sustentável e pouco intensa do Homem. Dependendo da componente do sistema que se quer valorizar (agricultura, pastagem ou floresta), são aplicadas diferentes práticas de gestão quer a nível da árvore quer da paisagem. Estes sistemas são considerados um excelente exemplo de balanço entre desenvolvimento económico e conservação da biodiversidade. No entanto, para que haja uma conciliação adequada destas duas componentes, os montados têm que ser corretamente geridos.

 

No que respeita aos montados de sobro, actualmente os sobreiros podem ser encontrados em dois tipos base de formações florestais: os sobreirais e os montados. Os sobreirais são áreas geridas sobretudo para uso florestal sendo por isso zonas florestais mais fechadas e com um sub-coberto mais desenvolvido. Já os montados, denominados por dehesas em Espanha, são sistemas agro-silvo-pastoris dominados por sobreiros e/ou azinheiras, em que o sub-coberto é menos exuberante uma vez que é usado para fins agro-pastoris, como pastagens e plantações cerealíferas. São os montados que dominam na maioria das áreas de distribuição do sobreiro, especialmente na Península Ibérica.

 

Os montados são geridos desde há séculos para providenciarem uma multiplicidade de bens e serviços. Estes incluem criação de gado e caça, culturas de cereais, produção de carvão, cogumelos, mel e, especialmente nos últimos dois séculos, cortiça.

 

  

Cortiça

Cortiça

 

Quando um Monge Benedito chamado Pierre Perignon descobriu as vantagens da cortiça como vedante de garrafas de champanhe em França, no final do século XVII, desencadeou-se uma grande mudança a nível da gestão dos montados de sobro. Desde então uma vigorosa indústria corticeira cresceu, o valor económico da cortiça aumentou e esta tornou-se o segundo produto florestal não lenhoso mais importante no Oeste do Mediterrâneo.

 A cortiça é periodicamente extraída da árvore retirando longas pranchas do tronco e ramos, quando estes atingem um perímetro mínimo de 70 cm. Quando a cortiça é extraída, a árvore tem a capacidade de regenerar uma nova camada deste revestimento, uma vez que o felogénio (o tecido responsável pela produção da cortiça) está activo durante toda a vida da árvore. A primeira extracção de cortiça ocorre quanto a árvore tem cerca de 25 anos de idade, seguindo-se as restantes extracções em intervalos nunca inferiores a 9 anos, entre Maio e Agosto. Isto significa que uma única árvore pode produzir entre 15 a 20 colheitas de cortiça ao longo de cerca de 250 anos. O descortiçamento é feito manualmente por tiradores especializados, com a ajuda de um machado concebido para esta operação, e não implica a destruição da árvore.

 

Embora a cortiça tenha uma cada vez maior variedade de usos industriais (como pavimentos, materiais de isolamento, roupas, acessórios e mobílias), a produção de rolhas continua a ser o seu principal uso e a justificação para a enorme importância económica dos montados de sobro nas regiões onde ocorrem. Portugal produz aproximadamente 100 000 toneladas de cortiça por ano, o que corresponde a cerca de 50 % da produção mundial, seguido pela Espanha (cerca de 30 %), Marrocos e Argélia. A cortiça representa cerca de 2.3 % do total das exportações portuguesas e cerca de 20 % das exportações de produtos florestais. Estima-se ainda que cerca de 28 000 portugueses trabalhem em actividades relacionadas com a cortiça, valor que ascende às 100 000 pessoas considerando os sete países produtores de cortiça no Mediterrâneo. A extracção da cortiça, e a manutenção do seu valor económico, é assim uma actividade muito importante para a preservação este sistema.

 

Curiosidade: A cortiça foi o primeiro tecido vegetal cuja estrutura se examinou ao microscópio, e que pela primeira vez foi descrito e desenhado. Foi graças a esta observação da cortiça que Robert Hooke, em 1665, descreveu o termo “célula”!

Outros Produtos

Outros produtos

 

Além da cortiça, da produção animal e plantações agrícolas, vários outros produtos podem ser rentabilizados a partir deste sistema como a bolota, o mel, os cogumelos, o carvão e as plantas medicinais.

As actividades agro-silvo-pastoris constituírem muitas vezes a base da exploração dos montados, no entanto, outras actividades contribuem também para o seu valor como é o caso da caça e turismo (ex.: observação de aves).

 

  

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